Posted on: January 29, 2020 12:18 PM
Posted by: Renato
Categories: Variados
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A convulsão social a qual o país vivenciou com a paralisação dos caminhoneiros autônomos trouxeram algumas questões que merecem reflexão dos mais variados setores, inclusive dos lideres organizacionais.
Parece-nos claro e evidente a crise de liderança vivenciada nesse fenômeno ainda em brasas nas trincheiras das rodovias, que invadiu como um tornado a vida dos brasileiros pela irrevogável força das redes sociais.
A CRISE DO LÍDER: UM EXEMPLO.
Por várias oportunidades apresentou-se que o movimento da paralisação era “difuso e horizontal” e esta conceituação revela que naquele momento (entre dia 21/05 a 28/05) ocorrera por assim dizer “um vácuo de liderança”.
Este exemplo apenas narra um sintoma sócio-organizacional brasileiro já ditado em verso e prosa em inúmeros artigos e journals, e evidencia-se que o pano de fundo dessa celeuma, entre outros fatores, trata-se de uma crise de virtudes ética.
No entanto como ensina Professor Anderson Sant`Ana da Fundação Dom Cabral: “Sempre haverá uma liderança pois o líder ocupa os espaços vagos em qualquer cenário.” De fato, foi o que ocorreu em nosso exemplo – paralisação dos caminhoneiros – que surgiu algumas lideranças que enfim conseguiram efetuar uma leitura das reinvidacações das estradas e dialogar com “poder de representatividade e liderança” com o Governo Federal etc.
Ocorre que, tais lideranças não surgem ao acaso, mas por reconhecimento dos “liderados” face ao “líder” de um alinhamento de valores e competências que este detém e que servem de referencial àquele grupo de indivíduos, a este arcabouço valorativo ousamos cunhar de: virtudes.
O ETHOS DA LIDERANÇA.
Esta ousadia se explica pela correlação entre alguns ensinamentos extraídos da obra a arte da Guerra de Sun Tzu e alguns outros em Aristóteles e Santo Agostinho.
Já ensinava Sun Tzu (2015) em seu tratado militar A arte da Guerra no século IV A.C. “O líder deve controlar a impaciência, usar as habilidades, táticas e alianças.” “Trate os soldados com humanidade e disciplina, assim eles serão subordinados”. Em face desses ensinamentos, vislumbra-se que a liderança pode ser perdida quando o líder deixa de praticar ações virtuosas. A ética aristotélica nos ensina que virtude é um hábito conforme e em conjunto á reta razão. O hábito virtuoso tende para o bem e o belo, assim, as ações virtuosas são aquelas relacionadas com a prudência (mãe de todas as virtudes), fortaleza, justiça, temperança entre outras. As virtudes tendem para o bem do indivíduo e tem por fim último o bem da polis ou em nosso caso, o bem da organização.
Sun Tzu diz que o líder deve controlar a impaciência, usar as habilidades e alianças, essas palavras podem ser entendidas como virtudes para o filósofo grego Aristóteles. Podemos entender o controlar a impaciência como ser temperante, e usar habilidades entendem-se utilizar de seus hábitos virtuosos e alianças conclui-se pela amizade virtuosa.
Continua Sun Tzu ao orientar que o líder deve tratar seus “soldados” com humanidade e disciplina assim eles serão subordinados. Pode-se correlacionar aqui a humanidade com a virtude da amabilidade e brandura, a disciplina entende-se justiça e fortaleza e assim os “soldados” entende-se “equipe” serão “subordinados”, ou seja, atribuirão liderança a um determinado individuo que por fim será “líder”. Verifica-se a relação entre os ensinamentos do general guerreiro e o sábio grego e resume-se ao aforismo: Se o líder não praticar hábitos virtuosos perderá a liderança!
Por desdobramento lógico, entende-se que uma ação não virtuosa se faz viciosa. O Doutor Angélico, Santo Agostinho (2017), nos ensina em suas Confissões que o vício é a vontade pervertida que nasce da paixão, e que, servindo a paixão adquire-se o hábito e deste a necessidade. Aristóteles por sua vez diz que o vício é corruptor do princípio que gera a ação. Pois bem, o líder ao praticar ações viciosas em detrimento das virtuosas, acaba por corromper a si. Esta corrupção individual gera ausência de liderança, cria um vácuo a ser ocupado por outrem, no entanto, tais questões podem ser sistêmicas, corroendo toda seara organizacional, levando inclusive, a derrocada de organizações.
O ETHOS EM PRÁTICA: UMA PROPOSTA.
Recorremos a Vicent de Gaulejac (2007) em sua obra Gestão como Doença Social ao analisar a questão ética dos “gerenciadores” ao ensinar que “A verdadeira mudança seria realizar uma revolução epistemológica, ou seja, uma radical colocação em questão dos modos de pensar a empresa. Sem isso, os discursos sobre a ética e a moral terão apenas função ideológica, destinada a favorecer a adesão pessoal.” Esta mudança epistemológica a que se refere Gaulejac nos parece viável pelo caminho da educação executiva.
Ocorre que não basta sabermos acerca dos conceitos e nomenclaturas da arte ciência do Ethos, mas com importância capital se faz imperioso praticar o Ethos. Assim ensina Aristóteles, o filósofo de Estagira diz que “não basta saber que coisa é a virtude; há mister de tornarmo-nos bons. Se bastasse os raciocínios, bem deveríamos fazer de tudo para procurarmos muitos”, ou seja, deve-se praticar as virtudes, haja vista sê-las hábitos.
Concluí-se que o ethos da liderança se opera pela educação e pratica das ações virtuosas e que a mudança epistemológica narrada por Gaulejac opera-se dentre outros meios pelas as escolas de negócios que demonstram estarem cada vez mais próximas na construção da uma dialética fundamental entre academia que é detentora da ciência e organizações que são executoras da arte prática.
PARA SE APROFUNDAR NO TEMA
ARISTOTELES, Ética a Nicômaco. Tradução de Luciano Ferreira de Souza. 1 Edição. São Paulo: Marin Claret. 2016
AGOSTINHO, Santo. As Confissões. 1 Edição. São Paulo. Paulus. 2017.
TZU, Sun. A arte da guerra. Tradução de Ana Aguiar Cotrin. 1 Edição. São Paulo: Martin Fontes. 2015.
Renato Lucena 14/11/2018
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